sexta-feira, 9 de abril de 2010

A história do Fluxo Zero

Nesta última quarta-feira durante o tempo livre entre a saída do restaurante universitário e a aula das 13h30min, fui um dos afortunados a presenciar uma épica frase de um dos meus colegas de curso. Mas antes, para entendimento completo da mesma, é necessário apresentar-vos alguns conceitos típicos decorrentes do estudo do eletromagnetismo.

Em Física, e mais especificamente, no estudo de campos elétricos, há uma definição vitalmente importante denominada fluxo elétrico. Mas comecemos com algo mais simples. Uma das propriedades fundamentais da matéria é a carga elétrica. O elétron, por exemplo, é uma partícula sub-atômica cuja carga elétrica é negativa com intensidade que vale aproximadamente 1,6 x 10^-19 Coulombs.

Cargas elétricas geram forças sobre outras cargas elétricas. Uma carga negativa gera uma força de repulsão em outra carga negativa, e o mesmo acontece com duas cargas positivas, enquanto que cargas de sinais opostos (uma negativa e outra positiva) geram forças atrativas uma na outra. Essas forças de atração e de repulsão acontecem mesmo sem o contato físico entre as cargas; continuarão existindo forças mesmo se as cargas estiverem longe uma da outra (embora essas forças terão menor intensidade do que se as cargas estivessem próximas).

Para compreender melhor a existência de forças entre cargas, se diz que uma carga elétrica gera um campo elétrico no espaço ao seu redor. Esse campo elétrico interage, portanto, com outras cargas, afastando-as ou atraindo-as, através de forças, na direção da carga que gerou o campo. Um campo elétrico é representado graficamente por linhas de campo. A convenção é de que as linhas de campo saem das cargas positivas e entram nas cargas negativas.

Consideremos um campo elétrico E com suas linhas de campo atravessando uma determinada área A no espaço. Resumidamente, sem nos apegarmos a definições matemáticas rigorosas, podemos dizer que o fluxo elétrico (Fl.e) por essa área A é proporcional tanto à quantidade de linhas de campo (ou seja, a intensidade do campo elétrico) que passa por A quanto ao tamanho de A. Ou seja, podemos pobremente dizer que Fl.e = EA. Esta não é a definição correta, mas para fins de simplificação e facilidade de entendimento, me permiti tal blasfêmia.

Agora imaginemos a área superficial de uma esfera, e que dentro dessa área haja uma partícula carregada qualquer, tal qual um elétron. Em outras palavras, há uma carga líquida dentro da área. Como a carga gera um campo elétrico, então logicamente há um fluxo elétrico não nulo atravessando a área que imaginamos.

Digamos que, agora, a carga está posicionada fora da área esférica, e que dentro dela não haja nenhuma outra carga, ou seja, a carga líquida dentro da área é nula. A carga que está fora gera um campo elétrico na região, mas como não há nenhuma carga líquida dentro da área para interagir com este campo, então todas as linhas de campo que penetram para dentro da área esférica por um lado também saem da mesma por outro lado, de forma que o fluxo total através da área superficial esférica é zero.

Finalmente, agora que todos mais ou menos já sabem como funciona o fluxo elétrico, vamos à história que culminou na memorável frase de meu inspirado colega.

Durante uma viril discussão sobre mulheres gostosas, nos pusemos a apreciar um pouco o "movimento" do horário de almoço no campus da faculdade. Eis que surge então, ao fundo, uma das minhas colegas da turma de Física III-D. Estávamos eu e mais quatro parceiros num banco, observando de longe a caminhada dela, até que ela sumiu por entre os prédios, como quem toma o caminho para sair do campus, em direção ao terminal de ônibus. Quase todos concordaram que era uma baita mulher: alta e bonita, um pouco magra talvez, mas isso devido à tendência natural de alguém com aquela estatura. A exceção foi este meu colega, que inclusive apelidou-a carinhosamente de Michael Jackson. Havia uma vaga semelhança, mas nada que justificasse de fato o uso do apelido.

Intrigados com o opinião dele, decidimos que ele deveria expor suas próprias definições de mulheres bonitas. Um de nós pediu que ele nos desse o nome de duas pessoas (que nós conhecêssemos) que, para ele, fossem as Tops das Tops. Ele deu uma desculpa de que não era bom com nomes (o que acho válido porque eu mesmo também nunca sei os nomes de pessoas famosas) e acabou citando duas mulheres que ninguém conhecia. Até aí, tudo bem...

Então, esse mesmo colega que pediu o nome das Tops fez a seguinte proposição:
- Tá, imagina que venham essas duas mulheres, e que elas topassem ficar uma semana à tua disposição, fazendo o que tu quisesse. Mas... Em troca, tu tivesse que fazer uma coisa...
(Todos escutaram atentamente, prevendo que naquele "Mas..." era onde morava o perigo)
- Em troca, tu deveria fazer, por um dia, tudo o que o Maguila quisesse.

Logo após se seguiram segundos de tensão, todos olhando e esperando silenciosamente a resposta dele, e ele pensativo, com um olhar fixo e distante. Até que ele fala:
- Não sei...
- Pensa bem, cara um diazinho de sofrimento ali, mas depois a recompensa de uma semana no paraíso, é no mínimo algo para refletir...

Mais uns instantes de silêncio, e por fim:
- Não, não vale a pena. Não tem vantagem nenhuma porque o fluxo é zero.





Para os que ainda não tivessem entendido (todos entenderam na hora, mas pode ser que algum de vocês leitores seja meio lento), ele ainda explicou:
- Se tu penetra e é penetrado... Fluxo zero.

Portanto, nada melhor do que fazermos um quote para a frase épica da semana:
Não tem vantagem nenhuma porque o fluxo é zero.

É, eu sei, estudantes de engenharia são casos perdidos.

Nenhum comentário: