sexta-feira, 8 de abril de 2011

Resgate de uma era

No momento em que começo a escrever essa frase, meu relógio marca 00:27 da noite, estou sem sono, não há muito o que fazer já que estão todos dormindo. Estou esperando a conclusão do download de um filme (está lentíssimo, por sinal), não posso gravar vídeos dos meus games (pois acordaria todos ao fazer os comentários) e até estou tendo que digitar vagarosamente e com cuidado para não fazer barulho.

Na falta de passatempos e de um assunto melhor prara escrever, hoje vou falar um pouco sobre algumas lembranças dos tempos de ouro da minha infância.

E o pior é que a expressão "tempos de ouro" pode muito bem ser levada ao pé da letra, já que uma das minhas primeiras recordações diz respeito aos incansáveis Cavaleiros do Zodíaco, com suas armaduras reluzentes. Que garoto não teria sido fascinado pelos combates violentos e sanguinolentos, pela fé e persistência dos cavaleiros de bronze protetores da Deusa Atena, e pelas mais belas e legais armaduras que já se viu num desenho animado? Eu assistia aos episódios na TV, colecionava os bonecos, alugava os filmes em VHS, desenhava armaduras de papel, cortava-as e vestia-as, colando na roupa com fita adesiva, comprava qualquer bugiganga que levasse o nome deles. Eu tinha até um jogo de dominó e uma lancheira dos CdZ.

Pai, pode me comprar uma dessas?

Mas eu não poderia citar os CdZ se não me comprometesse a também falar do mais veloz ouriço azul colecionador de anéis e de Esmeraldas do Caos que se tem notícia. Se tu não sabes do que estou falando, nem continue lendo, vá embora e não retorne; não conhecer Sonic faz de você indigno de acompanhar este blog.

Sonic de fato foi um dos principais heróis da minha infância, e é triste que não me lembre ao certo o porquê, como tudo começou, quem ou o quê me apresentou a ele. Hoje em dia eu sei que Sonic conseguiu sua fama e popularidade ao rivalizar com o já estabelecido Mario, numa disputa entre Sega e Nintendo pela maior parcela do mercado de games na década de 90. Mas o fato é que eu conhecia o Sonic muito antes de sonhar em ganhar meu primeiro videogame. E também não me lembro de assistir algum desenho animado do Sonic ou algo assim (a não ser depois de mais velho, quando o desenho passava nas manhãs da Rede Globo, creio eu).

Ah, a saudável competição empresarial...

Pesquisando no Wikipédia, descobri que o desenho Adventures of Sonic the Hedgehog teve sua transmissão original no Brasil (pela Globo mesmo) em 1993. Será que eu vi nesta época? E, se é que vi, por que raios eu teria um bloqueio tão grave de memória, tendo em vista que Sonic definiu a minha infância de forma tão importante quanto os CdZ, de cujo anime me lembro tão perfeitamente? Bom, talvez porque eu tinha só 3 anos de idade... Contudo, me lembro bem de um conjunto de roupas do Sonic que minha mãe comprou e de um almanaque com várias histórias em quadrinhos do ouriço, que eu usava com base para desenvolver minhas habilidades artísticas com lápis e papel.

Sonic lembra Sega, e Sega lembra outra parte muito feliz da infância, que foi quando eu e meu irmão ganhamos, de presente, nosso primeiro e lendário videogame, o Sega Saturn. Mas antes de falar do dito cujo, deixe-me explicar o contexto histórico da época.

Um console de videogames, no Brasil, se ainda hoje é artigo de luxo, imagine nos anos de mil, novecentos e lá vai pedrada. Era o sonho de toda criança, a máxima realização pessoal que se podia atingir. Do seleto grupo dos afortunados agraciados com um aparelho de jogos eletrônicos, a grande maioria - pelo menos de acordo com minhas observações à época - tinha um Super Nintendo, e o restante tinha o Sega Genesis, ou mais conhecido como Mega Drive. Claro, às vezes se encontrava alguém com um Atari 2600 herdado dos pais ou algo assim, mas aí já era mais raro.

Os queridíssimos da garotada dos anos 90.

Me lembro de ter ido uma vez ao shopping com minha avó para escolher um presente de aniversário; ela sugeriu um videogame, então fomos a uma loja e testei o jogo Toy Story num Mega Drive, e quem sabe um jogo do Sonic, não lembro qual. Gostei bastante, mas no fim não ganhei o presente (acho que era muito caro na época).

Foram anos jogando pouquíssimo alguns jogos na casa dos primos (eu era muito tímido e preferia mais assistir aos outros jogando do que eu mesmo pegar o joystick), até que um dia meu pai chegou em casa com uma volumosa surpresa em forma de caixa retangular. Abri junto com meu irmão, que na época estava na transição bebê-criança (e não deve se lembrar de nada disso), e para nossa surpresa éramos, finalmente, donos de um poderoso videogame: o já mencionado Sega Saturn. A emoção foi grande, apesar de - e eu odeio lembrar que senti isso na época - fiquei meio decepcionado por não ter sido um SNES. Eu sei, eu sei, que burro eu era, tinha em mãos um videogame com capacidade para jogos em 3D; o mais próximo do "verdadeiro 3D" que o SNES poderia chegar era um limitado Star Fox. Mas fiquei muito feliz de qualquer jeito.

Caixa, joystick e aparelho.

O Sega Saturn, sem dúvidas, contribuiu muito para moldar minha personalidade. Eu nunca poderia esquecer as incontáveis tentativas de chegar cada vez mais longe nas fases de Die Hard Arcade, até meu irmão se dar conta de que o mini-game inicial servia para ganhar créditos suficientes para conseguir zerar o jogo. Acho difícil que muito mais pessoas, pelo menos aqui no Brasil, tenham passado pela mesma experiência de ter a infância tão marcada por este singelo Beat'em Up, uma vez que era tão raro encontrar um possuidor de Sega Saturn aqui. Pra falar a verdade, nunca encontrei outra criança que tivesse esse videogame, e raros eram os amigos do colégio que já haviam ouvido falar do console. Com sorte, talvez o leitor já tenha se deparado com a versão para máquina de fliperama de DHA em algum canto de país, mas era igualmente (ou mais) raro encontrar tal máquina em algum "fliper" por aí. Eu mesmo só vi uma ou duas vezes.

A clássica primeira "fase" de Die Hard Arcade.

E a emoção de virar (aqui no RS, quando alguém terminava um game, se falava que o maluco tinha "virado" o jogo, em vez de se usar o termo "zerar", como no resto do país) pela primeira vez o magnífico Sonic the Hedgehog 2 - que era um dos games presentes na coletânia Sonic Jam, para o Saturn -, e se apavorar ao ter que fugir imediatamente e o mais rápido possível da nave do Robotnik, com o fogo das explosões quase alcançando as costas do Sonic enquanto ele corria por sua vida, nossa! Eu segurava o botão direcional para a direita do joystick com toda a força que a apreensão me instruía a utilizar, e não largaria por nada no mundo até que Sonic estivesse, enfim, a salvo. Obviamente, hoje eu sei que não era necessário segurar o direcional para que Sonic corresse naquela parte, mas a ilusão de que era necessário me trouxe uma satisfação especial quando "escapei" e assisti às cenas finais do jogo.

Tela título de um dos melhores games já criados.

Bom pessoal, o texto já está bastante extenso, então talvez eu continue com as lembranças em breve. Obrigado aos que leram, e espero que tenham se identificado com, no mínimo, algumas das coisas que falei aqui. Té mais. 

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